sexta-feira, junho 02, 2006

Eles prometeram que explicavam... e explicaram! Um olhar sobre Bolonha


Dia 27 de Maio, marcavam 37º quando chegámos ao Barreiro para a sessão de esclarecimento sobre o Processo de Bolonha, oportunamente organizada pela Federação Distrital de Setúbal da Juventude Socialista.

Mas, sem mais demoras e considerações acerca do calor asfixiante que se fazia sentir, vou antes partir para aquele que foi o verdadeiro contributo desta tarde, uma oportunidade ímpar para vermos esclarecidas todas as duvidas que nos assolavam sobre este grande desafio que se avizinha, o formato Bolonha! Terão oportunidade de consultar os documentos que amavelmente, a Federação de Setúbal colocou ao dispor de todos os que puderam comparecer ao debate, neles estão informações preciosas e algumas questões que certamente vos ecoam na cabeça. O que vos deixo aqui mais não são que pequenas anotações, desgarradas até, confesso, sobre o que considerei ser importante e um enriquecimento daquilo que já vem explicado nos documentos cedidos pela Federação de Setúbal e que atempadamente colocarei também ao vosso dispor.

Por enquanto, 50% dos alunos inscritos no Ensino Superior não concluem o seu percurso académico e isto é sem dúvida demonstrativo do mau sistema de ensino. Então, como pode o Processo de Bolonha alterar o panorama actual do sistema de Ensino Superior?
Este sistema de ensino agora proposto, tem uma moeda, à semelhança do Euro, os créditos ou ECTS ou ECATS (European Credit Accumulation and Transfer System) e que permitem também eles, a livre circulação dos alunos no espaço Europeu. O sistema de créditos permite analisar com maior rigor aquilo que se pretende de cada cadeira, aqueles que são os objectivos da cadeira no tempo de trabalho normal. Este rigor nos objectivos acabará com as lutas de prestígio entre faculdades, porque todas estarão sujeitas a procedimentos semelhantes.
O que foi uniformizado neste sistema, foram os graus de ensino, porque a estrutura dos cursos nos dois primeiros ciclos (Bachelor e Master ou Licenciatura e Mestrado, coloquei a designação em Inglês porque também ela traduz a inadequação do nosso sistema de ensino actual) tende a ser semelhante entre universidades diferentes, em países diferentes. O mestrado por sua vez, perdeu a componente longa da tese, ganhando uma componente escolar mais longa.

A entrada em Bolonha afecta de facto o modo como se processa o sistema de ensino em Portugal e isto fez com que houvesse uma recusa espontânea e generalizada no sentido de aceitar a mudança. O debate sobre a adesão ao processo de Bolonha tem sido contaminado por questões paralelas que pouco têm a ver com o Processo em si, como a questão da subida das propinas, na verdade, a questão do financiamento do Ensino Superior em Portugal é pertinente e premente, mas estas iriam subir independentemente do Processo de Bolonha. Embora as propinas aumentem, também se sabe que em Portugal o esforço familiar no sentido de suportar as despesas inerentes à frequência Universitária é superior à que vemos nos outros países da União Europeia, e isto concretiza indubitavelmente um factor de abandono escolar que pode ver no Processo de Bolonha um forte opositor, uma vez que a redução do número de anos irá constituir também uma redução na despesa familiar.

Muita coisa foi dita sobre o Processo de Bolonha, mas penso que quem melhor terá concretizado o que ele realmente representa terá sido o Prof. Dr. Rui Pena Pires, coordenador do Processo de Bolonha no I.S.C.T.E., não é possível mudar sem desorganizar, mas este será o único preço a pagar pela inclusão neste formato! É com esta postura que devemos encarar a realidade que se aproxima, porque certamente será um passo a favor do desenvolvimento.
Foi de facto um debate muito interessante e enriquecedor e uma óptima iniciativa por parte da Federação de Setúbal da Juventude Socialista, no entanto, algumas dúvidas subsistem, para quem sabe uma nova iniciativa? Dúvidas que tive inclusivamente oportunidade de partilhar e que passam pelos contornos que assumirão a partir de Bolonha, a nossa competitividade e capacidade de mobilidade (vantagem amplamente discutida no âmbito deste debate) perante países que não pertencem à União Europeia como os EUA ou o Japão. Ou ainda, pensado em duas realidades que estranhamente coexistem em Portugal, o facto de termos uma percentagem enorme de licenciados desempregados e ainda assim termos um número de pessoas licenciadas inferior ao que encontramos nos restantes países da Europa, como irá ficar então a questão da empregabilidade, uma vez que teremos mais licenciados em menos tempo? Passo a bola para vocês para que todos possamos pensar estas questões!
Finalmente, queria apenas acrescentar, tal como frisou o nosso Secretário Geral, Pedro Nuno Santos, para além de todas as revoluções a que o Processo de Bolonha obriga, a mais importante e a que menos devemos subestimar é a completa transformação ou passagem de uma transmissão de conhecimentos passiva para uma aquisição de competências activa. É urgente que estejamos confiantes nas nossas capacidades proactivas e que encaremos este desafio como forma de nos enriquecermos!